Todo mundo conhece pelo menos uma mulher que abortou. Aqui, nós apresentamos as histórias em quadrinhos de quatro anônimas – quatro mulheres com quem você pode muito bem já ter cruzado na rua. Uma delas pode até ser sua amiga. Uma delas pode até ser sua mãe.
Em outubro de 2012, o Uruguai legalizou o aborto. De dezembro do mesmo ano até maio de 2013, não houve uma única morte relacionada ao procedimento no país. O número de abortos também caiu: de 33 mil por ano para 4 mil por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em outros países onde o aborto é legalizado, a mesma coisa acontece: nos Estados Unidos, morrem 0,7 mulheres a cada 100 mil abortamentos, de acordo com um estudo da Universidade de Nova York.
Tudo isso porque, quando a interrupção da gravidez é legalizada e amparada pelo Estado, os profissionais da saúde conseguem conversar com a mulher que engravidou de forma indesejada, perguntar para ela o que deu errado na contracepção e indicar métodos melhores.
98% dos abortos clandestinos do mundo acontecem em países em desenvolvimento.
Enquanto 80% dos países europeus, norte-americanos e da Oceania permitem o procedimento, 84% das nações caracterizadas como “em desenvolvimento” – como Brasil Índia e África do Sul – criminalizam as mulheres que recorrem a ele. Nestes países, 3 em cada 4 abortamentos ilegais são realizados em condições inseguras. E os números assustam: somando a África e a África Subsaariana, são 980 mortes a cada 100 mil abortos clandestinos; na América Latina, são 30 mortes; na Ásia, 160. 98% dos abortos clandestinos do mundo acontecem em países em desenvolvimento.
O Brasil, que só permite o aborto em caso de estupro e em situações de risco de vida da gestante, está entre os países em que as mulheres mais morrem em decorrência de interrupções mal feitas da gravidez: é uma morte a cada dois dias, de acordo com projeções da OMS – é a quarta maior causa de morte materna no Brasil. Enquanto isso, o Ministério da Saúde estima que 1 milhão de mulheres recorram ao aborto clandestino por ano no Brasil – isso sendo que o SUS realiza, anualmente, cerca de 20 mil curetagens pós-aborto (o procedimento de raspagem do útero, para evitar que os restos de material fetal e endométrio causem infecções).
No Brasil, a cada dois dias uma mulher morre em decorrência de um aborto inseguro, de acordo com projeções da OMS. Esta é a quarta maior causa de morte materna do país.
Mesmo assim, o Código Penal brasileiro determina: a mulher que aborta ilegalmente deve ser detida por até 3 anos. E mesmo assim, a lei continua a retroceder: em 2015, tramitava no Congresso o Projeto de Lei 5069, que limitava o acesso à pílula do dia seguinte, criminalizava a informação sobre o aborto legal e dificultava ainda mais o aborto, obrigando as mulheres a fazer o B.O. antes de qualquer outra coisa para ter acesso ao procedimento. Outros projetos, como o PL do Nascituro, demonizam ainda mais a mulher que aborta, comparando a interrupção da gravidez a um homicídio.
Dentro deste cenário, se torna mais importante do que nunca falar sobre o aborto. Por isso, como Trabalho de Conclusão de Curso, decidimos ir atrás da mulher que aborta no Brasil, ouvir sua história de vida e da sua experiência com a interrupção da gravidez, compreender o estigma e a culpa a que ela é submetida antes, durante e depois do procedimento – e transformar tudo em uma reportagem quadrinhos. O resultado foi a reportagem gráfica Quatro Marias – uma reportagem em quadrinhos sobre as realidades do aborto no Brasil.
O Ministério da Saúde estima que 1 milhão de mulheres recorram ao aborto clandestino por ano no Brasil
São quatro as mulheres que dividiram suas histórias com esta reportagem – quatro Marias, pois são todas anônimas: Maria Memória, Maria Julieta, Maria Mudança e Maria Dentro da Lei. Apesar de partilharem o mesmo nome fictício, a mesma condição de mulher e a mesma experiência, as Marias são muito diferentes: cada uma tem seu território, sua história de vida, sua classe social, sua etnia. Cada uma interrompeu a gravidez de um jeito, e cada uma tem uma visão diferente sobre o processo como um todo. Conheça essas mulheres:

O processo de criação
O passo a passo da reportagem

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